ÁFRICA: Múltiplos Olhares sobre a Comunicaçãot

Ana Claudia de Oliveira (Org.)

ÁFRICA: Múltiplos Olhares sobre a Comunicação

É sabido que duas novas tecnologias desenvolvidas ao longo do séc. XIX – a fotografia e a cinematografia – viriam como fizeram influenciar substancialmente  tanto as práticas quanto os produtos da imprensa.  A primeira propiciando a competência para imagéticamente reter e fixar o instante no exato momento  da ocorrência do fato, e a segunda, dar alma e vida às imagens apreendidas. E, na virada para o novo século as primeiras agências noticiosas passaram a enviar seus correspondentes para os quadrantes do mundo, agora munidos de câmeras a captarem fotos e filmes para gáudio de seus leitores europeus.   As imagens de mundos exóticos passaram a ser consumidas com sucesso estrondoso nas primeiras páginas do jornal e nas telas das salas de exibição do cinema – fotos e filmes constituíram desde então a principal fonte de construção do imaginário popular. Paulatinamente o texto verbal escrito foi cedendo espaço cada vez maior – a imagem substituindo a palavra – aproximando os jornais das revistas ‘ilustradas’.

O continente africano passou a dividir com a nossa Amazônia o papel de protagonista da comunicação, e esta, por decorrência natural cada vez mais assumindo o seu caráter visual.   O século XX tem início com os países colonizadores europeus guerreando para abocanhar cada um para si a maior e melhor porção do paraíso negro – e de 1914 a 1918 quase se mataram cruentamente. É dessa época a adjetivação de ‘belga’ para a palavra ‘Congo’; do uso da denominação de ‘África do Sul’ para a região extrema inferior do continente com suas ambicionadas jazidas de diamantes; e do deserto equatoriano do Sahara, ao norte, como África ‘francesa’.   Dos seus habitantes naturais ficou em nossas mentes o antropóide gigante ‘Kong’ cultuado como ‘King’, a bravura e crueldade dos mercenários, bandidos e fugitivos de todos os países do mundo, recolhidos pela França em sua ‘legião estrangeira’ – protagonista de incontáveis livros e filmes de aventura, diacronicamente substituídos pelos ‘rambos’ e similares guerras e similares heróis; e, principalmente, a fila de carregadores das tralhas do branco invasor perlongando a cantar, submissos, as trilhas em direção aos tesouros ocultos e imaginados desse negro ‘eldorado’.

Aos poucos, a segunda metade do século XX viu estarrecida, porém violentamente, o surgimento das insurreições populares frutos do amadurecimento de sentimentos nativistas e cansaço das diversas formas de escravidão mascaradas por mudanças nas formas de colonização. Todo o continente se levantou e nações novas, negras, redesenharam o mapa da África.

Os organizadores deste livro, Antonio Hohlfeldt e Maria Inês Amarante, cônscios do discernimento que a distância temporal favorece aos olhares que se voltam para a África portuguesa de hoje nos convidam à reflexão sobre  o papel da  Imprensa antes, durante e depois das diferentes colonizações sofridas pelo povo africano.

Desfilam ante nossos olhos a África submissa, a África insurgente, e a África emergente de nossos dias, esta última acima de tudo inda que tardiamente, moderna.  

 

No entanto, cremos ser o grande chamamento que nos fazem os ensaístas que assinam as partes deste livro: o papel da Imprensa e seus efeitos sobre as comunidades africanas. As diferentes culturas préexistentes no espaço continental propiciadas justo pela vastidão do espaço e pelo consequente  isolamento  dos grupamentos humanos ou tribos cada qual com seus hábitos, deuses e… cultura própria.   Os organizadores e seus autores convidados, por sua vez, nos convidam a estudar os processos comunicacionais necessários para atender entre outras diferenças, as culturais e linguísticas que reunidas esboçam o pensamento de um indivíduo e de seu grupo. Qual teria sido a resposta às questões afloradas pelas diferenças? Como se processou a interação dos grupos humanos envolvidos em tão complexa equação e com tantas variáveis, dependentes e independentes?

Volvamos o nosso olhar para estes bem mais do que oportunos ‘Múltiplos olhares sobre a Comunicação’ que nos prodigaliza este grupo seleto de pesquisadores de comunicação aqui reunidos e presentes, nesta ‘África’.

 

Paulo B. C. Schettino