Osvando J. de Morais (Org.)

Comunicações & Problemas. Luiz Beltrão. V.5

Comunicação e Cultura Popular

Se a rapidez da sociedade da informação possibilita a criação cotidiana de ‘um novo mundo’ de informações, com ofertas, cada vez mais velozes de conhecimento, exige por outro, que toda essa gama de dados que circulam pelas ‘infovias’ comunicacionais faça parte do cotidiano das pessoas, quase que em tempo real.

Esse ultimato se insere no mundo do trabalho, do lazer, da economia, da política, da cultura em uma aparente cobrança da inserção do indivíduo nesses contextos. Os processos comunicativos, seus meios e/ou veículos de transmissão de informações têm passado por mudanças significativas que, além de singulares, revelaram particularidades históricas, inseridas muitas vezes em movimentos políticos, econômicos e sociais, mas que não perderam o foco no respeito às singularidades culturais regionais-locais.  Embora, frequentemente, carregadas de vieses que assimilam o passado, os produtos que circulam pelos múltiplos canais de comunicação buscam reconstruir a identidade nacional. Para isso, muitas vezes, esses espaços produtivos se valem de elementos da cultura popular e da pluralidade de suas manifestações, travando um duelo entre o global-nacional e o regional-local pela recuperação do ethos nacional.

Nossa cultura é resultado de um Brasil de fusões, de intercâmbios, de culturas antigas e da própria imigração norte-sul e leste-oeste deste país de dimensões continentais. Esse enriquecimento de signos e significações, permeado pelos meios de comunicação de massa, é tradução de uma história específica, um ritmo próprio, com peculiaridades mostradas nos tempos históricos e subjetivos, mas que ultrapassam as considerações geográficas de região e redimensionam o conceito de tempo presente. A complexidade de formas, cores, valores, sabores e manifestações populares configura o patrimônio de uma sociedade, que recheado de importância peculiar garante a preservação do passado e permite a construção do futuro. 

Os processos de globalização pelos quais o mundo atravessa, consolidam a priorização do regional em uma constante busca de mecanismos que transcendem as questões nacionais e/ou globais. Mas o que percebemos na atualidade é uma busca, nem sempre perceptível para os menos atentos, de ações que evidenciam costumes, credos, culturas e outras formas de participação social, que estão presentes em manifestações sociais diversas e que repercutem intensamente nas camadas mais populares. São as formas culturais de um orbe específico e singular, mas não exclusivo-individual. Incorporadas ao universo simbólico das comunidades periféricas, formam um mosaico de revelações singulares, mas não únicas, que rompem o isolamento social que comunidades inteiras são submetidas por conta da chamada globalização por um lado, e de marginalização, por outro.

Neste cenário plural as manifestações locais – que permeiam as diferenças regionais – eclodem com implicações sociais, econômicas, políticas e culturais, surgindo revelações da cultura regional-local como um produto derivado das diferenças histórico-geográficas. Por outro, a busca de respostas para questões que abrigam as diferenças entre as localidades e os constantes desafios de se constituir espaços mais ou menos homogêneo, têm elevado a possibilidade de ações conjuntas e complementares, não somente nas áreas da economia e da política, mas da cultura, tanto locais quanto regionais. O desafio desta transformação tem permitido ultrapassar as próprias fronteiras locais e visualizar um conjunto global de atividades, predominando o sentimento de cooperação e de integração regional.

É neste sentido que devemos fazer a leitura desta publicação, ampliando o olhar para além do local e do tempo que ela relata. As edições da Revista Comunicação & Problemas, disponibilizadas neste volume retratam os múltiplos processos comunicativos permeados pelas singularidades regionais, que são evidenciadas através das manifestações populares regionais-locais. Os volumes aqui disponibilizados reproduzem escritos sobre a cultura popular, os processos de comunicação, resultados de pesquisa, agenda de trabalho, artigos que tratam de jornalismo, comunicação, folclore e as ações diversas realizadas no Icinform (Instituto de Ciências da Informação), criado por Luiz Beltrão. A revista circulou por quatro anos, a partir da segunda metade dos anos de 1960. É uma fonte documental importante sobre o cenário da Comunicação daquela época e que permite o entendimento sobre diversas questões, que mesmo quase meio século depois, parecem tão atuais. Com periodicidade quadrimestral, deixou de circular após doze fascículos, em 1969, registrando contribuições de José Marques de Melo, Tereza Halliday, Humberto Sodré Pinto, entre outros. Foi a primeira revista inteiramente dedicada aos estudos e pesquisas de Comunicação editada no país.