José Carlos Marques e Osvando J. De Morais (Orgs.)

Esporte na Idade Média: diversão, informação e educação

Ousadia acadêmica

Por José Carlos Marques
 
No primeiro semestre de 2011, assim como costuma fazer já há algum tempo, a Diretoria Científica da Intercom, por meio da Profa. Marialva Barbosa, procedeu a uma consulta com seus Grupos de Pesquisa (GPs) em busca de sugestões para o tema central dos Congressos (regionais e nacional) que seriam organizados pela entidade no ano seguinte. O Prof. Antônio Hohlfeldt, Presidente da Intercom e nucleado do GP de História do Jornalismo, sugeriu que o esporte e suas relações com a comunicação estivessem na agenda de discussões de nossa comunidade acadêmica, ao que o Prof. José Marques de Melo, Presidente de Honra e nucleado do GP de Gêneros Jornalísticos, prontamente respondeu, inclusive nominando o tema de 2012: “Esportes na Idade Mídia – diversão, informação e educação”. 
 
Em setembro de 2011, por ocasião do Congresso Nacional realizado em Recife (PE), os sócios da Intercom, de forma unânime, aprovaram a escolha do tema em assembleia geral. A coragem em se propor uma temática que ainda é refém de estigmas variados, entretanto, seria posta à prova em novembro de 2011, quando a própria Intercom incluiu em seu portal uma enquête para saber o que os internautas pensavam sobre o tema referendado pela entidade. O resultado, talvez de forma pouco surpreendente, apontava para 40% de desaprovação dos respondentes.
 
Ainda que não indiquem um resultado advindo de uma pesquisa científica, esses números acabam por dar conta de um sentimento comum para todos aqueles que, ao longo de suas carreiras acadêmicas, procuraram incluir o esporte como objeto de suas investigações: o de isolamento acadêmico. Dedicar-se a pesquisas que levem em conta a relação entre esporte e comunicação é propor uma leitura a contrapelo do que a academia e o mercado costumam prestigiar na maior parte das vezes.
 
De um lado, a partir de uma tradição dos estudos sobre esporte cristalizados nas décadas de 1960, 1970 e 1980, a academia acostumou-se a associar o esporte aos conceitos de disciplina e alienação, por meio de uma visão neomarxista que subordinava o esporte às estruturas de exploração desse novo indivíduo refém da sociedade pós-Revolução Industrial dos séculos XIX e XX. Nessa visão, o esporte estaria relacionado, na maioria das vezes, a uma atividade de tempo livre, de lazer, ao tempo não útil – daí o fato de ele ser entendido como um tema marginal, no sentido de que estaria à margem dos temas importantes que regulamentam a vida social. Do outro lado, o campo do jornalismo brasileiro também cresceu e solidificou-se enxergando o esporte como um assunto pertencente a uma editoria igualmente “menor” quando confrontada com as “editorias importantes” (Política, Economia, Internacional etc.). 
 
O mérito deste livro está exatamente em demonstrar o quanto o esporte pode – e deve – constituir-se num objeto de pesquisa acadêmica, haja vista a multiplicidade de imbricações socioculturais que ele estabelece em nosso país. Não à toa, o Brasil já vive sua década de ouro esportiva, com a organização dos dois maiores eventos da área – a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016. Fenômeno típico da organização social do Século XX, o esporte ingressa neste início de novo milênio fortalecido como elemento que cria modas e comportamentos, que estimula o mercado publicitário, que estabelece relações identitárias e, sobretudo, que se configura como assunto digno de reflexão por parte das ciências humanas e das ciências da comunicação.
 
A Intercom, ao incluir pela primeira vez em sua história o esporte como tema central de seus eventos em 2012, demonstra mais uma vez seu caráter pluralista e interdisciplinar – diríamos até ousado. Ao comemorar seus 35 anos de vida, a entidade consegue ao mesmo tempo exibir todo o seu espírito jovem e atlético. Que não tenhamos que esperar novos 35 anos para voltar a incluir o esporte na agenda de nossa comunidade acadêmica.
 
José Carlos Marques
Docente do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UNESP (Campus de Bauru – SP); Diretor Administrativo da Intercom (Triênios 2008-2011 e 2011-2014).