António Fidalgo

Ética Mínima: pequeno guia para tempos difíceis

António Fidalgo nos devolve neste livro a Ética como a “Ciência do Costume”, isto é, a própria essência do espirito grego, porém adaptada para o nosso cotidiano. Aqui são retomados pelo autor os conceitos clássicos de beleza, bondade, justiça e felicidade, de maneira clara, a nos lembrar da finalidade da vida do homem em sociedade que é o próprio Bem.

Faz-nos ver que os ensinamentos de Epicuro e Aristóteles, independente das emergências contemporâneas, estão atualíssimos e seria necessário retornar a esses filósofos para repensar o sentido da vida como a busca da suprema felicidade. Ideal com muitos entraves, incluindo a existência do Outro como a grande indagação, pois como ser feliz sem o Outro sendo parte de mim mesmo e de todos? Talvez este seja o maior obstáculo da atualidade. São questionamentos muito importantes que ainda fazemos no contexto atual e as soluções apresentadas pelo autor para além de benvindas – oportunas.

 

 Osvando J. de Morais

 

Testemunhei o empenho do editor desse livro, Osvando J. de Morais, e os seus esforços despendidos para que se concretizasse sua edição brasileira. Logo após definida minha participação na empreitada – seria adequar o texto originalmente escrito na língua portuguesa ‘lusitana’ para leitura do nosso público afeito à língua portuguesa ‘brasileira’ –  dei-me conta de que seria quase um trabalho de tradutor, à semelhança que fizera para o mesmo editor na versão brasileira do livro de Jorge Gonzáles escrito em espanhol ‘mexicano’. Em cada país da América Latina a assimilação das línguas-mães – Português e Espanhol – deu-se de modos diferenciados, cada povo contribuindo com suas idiossincrasias. Ambos foram trabalhos gratificantes, cada qual com seus desafios. 

Logo após ter dado início a parte dos trabalhos que me coube neste livro, por pura fascinação, comuniquei ao editor meu desejo de fazer também a apresentação do autor e obra para o público-leitor brasileiro. Se para a Academia Brasileira e a INTERCOM  a apresentação do filósofo português António Fidalgo seria dispensável o mesmo não vale quando se pretende falar em especial a todos estudantes brasileiros. Sabe-se que a Filosofia assusta os jovens, talvez pela sua idade, dela e não deles.  Sabe ou falando no português ‘brasileiro’ – Leva jeito de, um pouco à coisa do passado longínquo que talvez aos jovens de hoje não viesse interessar.  Felizmente é justo o contrário disso.  

O saber filosófico, tipicamente de maestria, flui do mestre Fidalgo, deixando de lado a sua inerente fidalguia que de quebra o nomeia, transmutado em fala sobre velhos e antigos conceitos em roupagens linguísticas  novas ambientadas nos fatos (português brasileiro) e espaços da atualidade que envolvem tanto os jovens quanto todos no mundo em que vivemos – no aqui e agora. Os mais atilados perceberão en passant e sem o mais leve traço de exibição de conhecimentos eruditos gratuitos,  citações não explicitas que reafirmam os clássicos gregos, como Epicuro e Aristóteles, os filósofos latinos sendo representados por Sêneca, e sentimos inclusive a presença de Maquiavel e Balthazar Grazian a nos prepararem, ricos e pobres, para os embates da vida. Tudo voltado para as nossas atuais inquietações. Preocupações hodiernas que às vezes insistimos em não perceber ou recusamos sequer pensar desfilam ante os olhos atônitos do leitor, permeadas de palavras de ordem que ouvimos no dia a dia. Estão todas aqui no livro – nosso vocabulário cotidiano up to date: celular, shopping center, Internet, estresse, consumo, corpos sarados, academias (de fisiocultura) e muitas mais e mais e mais… faltando somente ‘ficar’ – na acepção jovem genuinamente brasileira. Afirmamos que sentimos a falta da palavra, mas nada a preocupar, pois o esmiuçar de seu sentido encontra-se  presente com outras palavras!

Se disso trata a Filosofia, que venha a Filosofia – mas com esse tratamento!
 
Nosso irreverente poeta ao se referir ao primeiro desembarque lusitano em terras brasileiras lamentou que nossos índios não tivessem despido os portugueses e portanto outras seriam as histórias a contar, se o inverso tivesse acontecido.  Mais de 500 anos depois uma nova travessia atlântica: antes o de Pedro, agora vem o desembarque livresco de António, fidalgo de nome, despindo-se dos atavios da erudição e falando a nossa língua  mas com sabor/saber à lusitana. Incita-nos a refletir sobre a vida e a morte e propõe mansamente que volvamos o olhar para o que realmente importa mergulhados que estamos até o pescoço, e a ponto de submergir, nas parafernálias e traquitanas tecnológicas que ameaçam nos sufocar. Outras as miçangas d agora de novos e outros colonizadores!
Benvindo, Fidalgo! Vamos empreender esforços para que esta sua obra se transforme  em livro de cabeceira dos estudantes brasileiros.  Eles só terão a ganhar.
 
Paulo B. C. Schettino, UFRN/ASL