Nelson Werneck Sodré

História da Imprensa no Brasil

O que escrever sobre um livro que se tornou um clássico? Como uma obra se transforma em algo tão perene que ultrapassa os modismos, a mudança das convicções teóricas e continua sendo lida por milhares de pessoas, quando se quer saber sobre a história da imprensa no Brasil?

História da Imprensa no Brasil, de Nelson Werneck Sodré, é um clássico. Não há estudioso da história da mídia que, ao começar a sua reflexão, não inicie pela leitura desse livro, publicado, pela primeira vez em meados dos anos 1960, e que levou décadas para ser escrito, tal a complexidade da pesquisa desenvolvida pelo autor.

O livro é, sem dúvida, um trabalho de fôlego, trazendo informações detalhadas e preciosas sobre a imprensa brasileira de 1808 até os anos 1960. O autor levou cerca de 30 anos para pesquisar e escrever o texto. Mas, o livro não é apenas um imenso registro de quase todos os jornais publicados no território nacional e dos seus fundadores. O autor permeia os dados factuais com comentários críticos e análises subjetivas, sobretudo nos capítulos em que trata do jornalismo que lhe era mais contemporâneo e, no qual ele estava mais diretamente comprometido.

Tendo o marxismo como pedra de toque da sua análise, Werneck propunha o estudo da imprensa, a partir da ideia central de uma história engajada, partindo do pressuposto de que elementos do passado podem lançar luz sobre os problemas contemporâneos. Não há distanciamento no seu texto: vemos emergir sua força, suas ideias e seus sonhos, em meio a um emaranhado de dados preciosos e reflexões contundentes.

Como tributário da base teórica marxista, tem nos argumentos que contemplam o mundo econômico e político o centro de sua análise. Debruçando-se em informações, recolhidas a maioria delas nos próprios periódicos que circularam, no Brasil, durante quase todo o século XIX até meados do século XX, o autor pretendeu – e conseguiu seu intento – traçar um painel denso e complexo dessa imprensa que começou a circular, no país, a partir da chegada da Corte Portuguesa, em 1808.

Porém, ao eleger o marxismo como centro de sua análise, parece claro, também, que Werneck postula pela ideia de inacabamento, de conhecimento cumulativo, mas que pressupõe sempre a “superação dialética”, apresentando traços decontinuidade e, ao mesmo tempo, de renovação. O marxismo apresenta-se, portanto, na obra não apenas como direção, mas como núcleo teórico principal, sobre o qual o autor vai alicerçando seus argumentos. É teoria e método para a descoberta de novas determinações que tomam como eixo central o movimento realizado pela imprensa brasileira na longa duração.
Aliás, este é o outro grande mérito deste livro: não apresenta uma “história em migalhas”, nos valendo, aqui, na expressão de François Dosse, mas uma história de quase dois séculos, procurando encontrar, nas generalizações, o caminho para a construção de seus argumentos, não sem antes proceder à análise de particularidades e as sínteses fundamentais para se alcançar conclusões de natureza mais holística.
Trata-se, portanto, de uma obra definitiva. O seu mérito é reconhecido todos os dias. E mesmo hoje – passados mais de 40 anos de sua primeira edição – se alguém se referir à História da Imprensa, no Brasil, certamente vai se lembrar, imediatamente, do livro de Nelson Werneck Sodré. História e imprensa, no Brasil, definitivamente estão atreladas à duração desta obra e, também, a este autor fundamental para aqueles que querem compreender as complexas relações entre história e imprensa no território brasileiro.

Marialva Carlos Barbosa
Diretora Científica da INTERCOM

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Nelson Werneck Sodré nasceu no dia 27 de abril 1911, no Rio de Janeiro. Faleceu em Itu no dia 13 de janeiro de 1999.
Começou sua carreira de jornalista, em 1934, no Correio Paulistano, tendo escrito para importantes jornais do país, como o “Estado de S. Paulo” e a “Última Hora”.
Fez carreira militar, chegando a ser general. Marxista, o historiador tem suas obras marcadas por questões sociais, políticas e culturais. Publicou, além de “História da Imprensa no Brasil”, dezenas de outros livros, entre os quais se destacam “História da Literatura Brasileira”, “O Que Se Deve Ler Para Conhecer o Brasil”, “Memórias de Um Soldado”, “Síntese de História da Cultura Brasileira” e “Memórias de Um Escritor”.

Rosana Bueno
Jornalista