José Marques de Melo, Maria Cristina Gobbi e Mauro de Souza Ventura (Orgs)

Pensar e comunicar a América Latina

Este “Pensar e Comunicar a América Latina” contribui muito, não somente neste momento e contexto cultural e geográfico, mas em vários campos e áreas do Conhecimento, com as práticas desenvolvidas pelos sujeitos, com seus habitus a explicitar uma unidade Latina de países fronteiriços ou não. Inda que a princípio o faça de modo um tanto mais ou menos canhestro – está-se no início da busca, a reconhecer-se, a si próprio, e a tatear e experimentar caminhos.

É primordial discutir e pensar a comunicação do ponto de vista Acadêmico e deveria fazer parte do cotidiano dos pesquisadores que habitam e vivem neste continente, trocando e compartilhando uma mesma história que tem se repetido especularmente desde a chegada dos primeiros colonizadores Portugueses e Espanhóis.
 
As práticas podem ser variadas, porém existe bem perceptível um corpus subjacente a formar um conjunto de atos comunicativos assemelhados que traduzem de maneira exemplar a comunicação na América Latina, como mostram os textos desta coletânea.

Pouco importa se a fala é o português ou o espanhol, a singularidade encontra-se em um modo de ser, de pensar, de agir, de reagir característicos. As diferenças são sutis e as intercessões são tantas,  o suficiente para formar uma unidade.

É com esse intuito que os textos que compõem este livro convidam a uma reflexão sobre o que significa fazer pesquisa em Comunicação em nossos contextos local, nacional e continental.

Impossível separar nomes de autores, de um lado, e experiências profissionais, artísticas e estéticas, do outro. A comunicação Latina se repete na sua própria história e naquela de cada um de seus povos unidos que são pela raiz linguística, mesmo que ostentem diferenciados modos de fala e escrita.

Nasceu assim: paradoxalmente misturada e individualizada, desmedida e surreal.

Verdade que somos o que soíamos ser, e sempre todos agimos de forma igual quando recebemos miçangas e devolvemos em troca os nossos mais valiosos tesouros áureos. Nossas práticas estão recheadas de imposições que foram recebidas como empréstimos: as Teorias, os Teóricos, os produtos, os bens simbólicos, as línguas. Tudo que vem de lá seja o que isso for desde que seja de fora e vier nos fascina.

As nossas pesquisas que resultam em artigos, dissertações e teses repetem as mesmas metodologias, as mesmas teorias, sem sofrerem quaisquer adaptações às praticas e realidades locais.

Por isso, se não nos querem ler e muito menos saber o que fazemos é porque repetimos grotescamente o que fazem, já que o fazemos sem os mesmos recursos que possuem. Isto acontece no Cinema, nas Artes de maneira geral, no Jornalismo, na Literatura, nos Quadrinhos, na Música  e os exemplos abundam na história,  e mais ainda na história da comunicação em todo o continente.

Por isso, a resposta está neste livro que reúne e mistura Jornalismo, Literatura, Estética, Autores e Críticos com um modo próprio de fazer Comunicação que configura e sistematiza uma Comunicação e Cultura mestiças. Neste caso, o Pensar a Comunicação na América Latina poderia conter um exercício de lembrar: da nossa história, dos nossos heróis, dos nossos mitos, das nossas fronteiras e dos nossos habitus que formam a nossa imagem espelhada no outro que vemos cotidianamente e, do mesmo modo, somos vistos d’aqui e d’além mar.
 
Ainda não compartilhamos as nossas experiências e não as transformamos em  Teorias  que justifiquem sair da longa e vazia mimese acadêmica.

O começo poderia ser através de pequenos ajustes: teóricos, metodológicos.

Ter consciência da realidade que nos cerca já é um começo, pois os olhos d’além mar  ainda nos olham como um Eldorado.

Osvando J. de Morais
Diretor Editorial INTERCOM
Pesquisador de Teorias da Comunicação e da Cultura