Marialva Barbosa e Osvando J. de Morais (Orgs.)

Quem tem medo de Pesquisa Empírica ?

Quem tem medo do Lobo Mau ? Quem tem medo de Virginia Woolf ? Quem tem medo de Pesquisa Empírica ?

Foi na Mesopotâmia, literalmente região entre rios de água potável, terra fertilíssima ladeada pelo elemento primordial Água que nasce a nossa história e a História nas primeiras representações verbais escritas nos relatos do que teria acontecido aos nossos antepassados recriados pela mão de quem vivenciou os fatos, fictícios ou não.   Isso não importa! Dada a importância de não apenas a aquisição da competência de manipular os símbolos agora pictóricos nos maravilhar como também a capacidade de sua utilização para construir mitos.   Por suas narrativas somos informados, não mais sem registro, que ali vicejaram civilizações que abraçaram o Céu e seus corpos luminosos como a primeira fonte do Conhecimento que vislumbra a desejada Eternidade ante o aprendizado amargo da finitude humana e a transitoriedade da vida.   Se o primeiro círculo da abóboda celeste é traçado pela trajetória dos deuses – Sol e Lua – semoventes e grandes e fortes e constantes, por outro lado, é o quarto e último círculo que foi escolhido pelos homens como o lugar da morada dos outros deuses junto ao deus maior, apenas entrevistos ou sonhados.

Em contraposição à condição humana é lá no chamado Empíreo, locus onde os deuses permanecem misturados e confundidos com as estrelas brilhantes e perenes que os humanos devem almejar habitar a dividirem com elas a primeira qualidade atribuída aos deuses – a Onipresença que a eles confere a Imortalidade.   A segunda qualidade – a Onipotência, foi facilmente deduzida bem anteriormente justo pela força dos habitantes do primeiro círculo que tudo pode crestar ou aliviar ou mudar com sua luz.   E é dessa força – a LUZ –  que a eles sob forma de estrelas luminosas foi atribuído a terceira qualidade que por nos vigiar eternamente tudo sabem de nós, e a sua Sabedoria tudo observa, não havendo como deles fugir ou esconder pois é deles o Conhecimento… e também por nada haver que desconheçam ao possuir a sua Onisciência derivada de sua luz eterna.

Para sermos como os deuses e as estrelas, ou no mínimo a eles tentarmos nos igualar, é necessário que busquemos as três qualidades que definem a deidade.

Do Oriente soprou o vento que perambulando pelo caminho do sol consigo trouxe do antigo Iraque para as ilhas gregas e suas terras continentais o Conhecimento, e os gregos arcaicos cunharam uma palavra única que traduzisse os deuses.

E eles criaram LOGOS que deles herdamos junto também à sua polissemia.   Nós, ocidentais de formação judaico-cristã,  a usamos em todos ou quase todos os seus sentidos possíveis… Para nós, dependendo da nuança pretendida, ela pode significar: palavra, discurso, sabedoria, razão, conhecimento, luz, ciência… e por aí, adiante!

Também de lá veio o ensinamento que para possuirmos a palavra e sua força devemos executar duas ações – Observar e Experimentar – que quando as realizamos somos conduzidos ao Empíreo. Vigorando para nós, simples mortais, a condição de nos tornarmos empiristas ou habitantes do espaço em que brilha a luz do conhecimento, imiscuídos aos deuses e as estrelas, nada mais é necessário do que abrirmos os nossos olhos e demais sentidos e não fugir quando chamados à ação das experimentações.

Através da via, senda, vereda, caminho ou como querem os gregos – método –  é que a pesquisa empírica oferece levar o investigador ao Conhecimento.   Sendo como é a Comunicação, um fenômeno eminentemente humano em virtude da separação dos homens dos outros seres vivos pela capacidade de simbolização é que as pesquisas comunicacionais tem-no prioritariamente como objeto. Historicamente, mesmo as ciências duras que exigem quantificação e redução do conhecimento em números para chegar à comprovação, quando se trata do objeto humano, se exige que o homem seja substituído por sucedâneos, como fez Mendel que lançou as bases gerais da Genética utilizando-se de flores – órgãos sexuais e reprodutores de ervilhas. É, por questões ligadas à ética, que condicionam que seja humano o uso dos seres humanos nas pesquisas acadêmicas, no dizer de Norbert Wiener,  que torna tão controversas as pesquisas ligadas às células tronco e a utilização de embriões humanos.

Esses arrazoados nos fazem crer ser correto afirmar que para o estudioso do campo da Comunicação a Pesquisa Empírica é seu melhor método, e nem há razão alguma de temê-la.

Paulo B. C. Schettino