José Marques de Melo e Osvando J. de Morais (Orgs.)

Vozes da distensão e transição: O debate político na sociedade

Um dos fenômenos mais trágicos das sociedades pós-modernas é a ausência (ou perda) da memória, seja ela individual ou coletiva. É preciso salvar o passado para servir o presente e o futuro, dizia Le Goff. Afinal, memória é onde cresce a historia, que por sua vez a alimenta. Sem memória não há historia. Este livro é uma contribuição da Intercom à memória de um tempo de intenso debate que marcou a distensão e a transição democrática do Brasil. Traz à presença o passado combativo da entidade ao apresentar entrevistas e artigos de personalidades do ambiente academico, artistico e político publicados em seu extinto Boletim Intercom (1978-1983) e no seu sucedaneo, a Revista Brasileira de Comunicação (1984-1989).

Na primeira parte, “Vozes da distensão política” rememora discursos em defesa da liberdade e direito à expressão, como os de Nelson Werneck Sodré e Vargas Llosa; ou  convocatórias à participação popular nas vozes de Dom Thomas Balduino e Francisco Weffort. E, claro, não faltaram os defensores da democratização da comunicação como Frei Clarêncio Neotti, Carlos Guilherme Mota e Alberto Dines.

Em “Diálogos da transição democrática”, na segunda parte, entrevistas com pesquisadores e pensadores da área refletem sobre a necessidade de uma comunicação para a transformação da sociedade.

É curioso ler esses textos a partir da perspectiva histórica de um passado recente que, para muitos, parece coisa do século passado. É mais estranho ver que muitas das reivindicações daqueles tempos ainda não foram realizadas em sua integridade. Há um longo caminho para se conquistar a democracia plena. Ao reproduzir textos esquecidos, a Intercom nos faz lembrar do antigo desejo de reduzir a desigualdade no país. A memória trazida à lembrança aqui é um recurso de libertação.

Nelia R. Del Bianco

Doutora em Comunicação pela USP, professora da Faculdade de Comunicação da UnB e vice-presidente da Intercom (2008-2011).